sábado, 6 de novembro de 2010

Onde ela nasceu - Prefácio Primeiro

Onde ela nasceu era assim meio entre espinhos de concreto
com um tronco (que não era mais árvore) de fundo.
Não se debate quem nasce belo para ornamentar.
Não se debate quando entre pedras esta postas a brilhar.
Como se fosse destino não pleitear por um lugar mais belo
Agradável e fora do cordão, que ainda pende na barriga da ilusão.
Se são turvos os pensamentos não sei dizer.
Mas não deve ser coisa pouca de se pensar numa sexta-feira,
Se todas as coisas dormem em paz
façamos guerra para as despertar.
Só assim com sons de instrumentos fartos de peso poderemos nascer para o pôr do sol sem arrependimentos.
Ao nascer do sol somos recebidos de braços abertos
como se, esperança de futuro, estivesse em nossas mãos mudar tudo.
Porém, o tudo do outro não é o meu.
Quem teve a idéia de me dar toda a responsabilidade de milênios para uma existência de um segundo?
Sou flor que brilha entre espinhos de concretos pela manhã
Mas ao anoitecer já não existo mais.
E, diante do sopro da existência, o que dar de mim para valer a pena para quem eu sou e para outros cujo tudo eu mesma não sei em que se baseia? 
Afoitos cortamos nossas raízes, saímos da frente do tronco, de entre as pedras e, desesperados, passamos a atirar para todos os lados. Em uma tentativa (quase) vã de acertar os alvos que merecem ser acertados e os que também não merecem, saímos afoitos, porém, na maioria das vezes não atingimos alvo nenhum...
A bem da verdade, no fundo, sabemos que não existem alvos, nem miras certeiras, nem armas suficientes...
Somos um mundo de desesperados tentando deixar de ser flor para ser formigas loucas e desvairadas - querendo a todo o custo passar a existência a guardar provisões que nunca serão usadas dentro de uma dispensa que é a própria vida...
Mofo é o que resta, fungos e poeira, prazo de validade vencido.
Os braços abertos agora se postam fechados e a esperança é a calamidade, a mão estendida agora mostra-se cerrada diante dos desvarios cometidos na noite passada.
Eu te perdôo por nascer, mas não há sangue que o livre dos erros cometidos às cegas.

Dani Vipo® São Paulo: 06/02/2005 ( 371)

Nenhum comentário:

Postar um comentário