sábado, 6 de novembro de 2010

Tarde de novembro


Chão enrugado, envelhecido, amarelado.
Uma trama tece-se no concreto.
Trama da velhice,
Do tempo, do enfado.
Compartilhado o silêncio.
O sentimento.
Compartilhado seus 85 anos.
Sem palavras.
Na surdez do pensamento falho,
Ralo,
Decrépito, talvez.
Compartilhado o cruzar de pernas,
Os dedos a moverem-se e cruzarem-se ausentes de pressa.
As frágeis veias.
Compartilhado o sorriso e a piada.
E as entrelinhas.
Compartilhado o mero acaso.
O traço
No chão.
É véspera de natal.
Enfeites pelo telhado e no portão.
Não escondem, contudo
A solidão.
A casa vazia.
Faltam pássaros.
Aqueles raros como a rolinha,
O pardal,
E o bem-te-vi.
Chega a tosse rouca,
A voz que não encontra
Saída.
O querer dizer sem o conseguir,
Trancaram-no na prisão de um silêncio
Forçado.
Passos pelas ruas... crianças.
E não se escuta, menos ainda se ouve.
Fragmenta-se a vida,
Contudo, ao Sr.Moreno,
Ela (a vida) cerra lentamente os olhos.
Como se fora um cochilo breve
Em que as cores ficam semi-cerradas
Pelo torpor, eterna ou efemeramente...
Eu? Eu narro, lado a lado.
Furtante da vida alheia.
Sentada em sua cadeira de balanço
(aquelas de interior!)
O sono se aproxima de mim, porém,
Um sabiá o afasta com suas asas
E, por enquanto, não durmo.

Dani Vipo®

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