terça-feira, 10 de julho de 2012

Cabides



Em uma dessas conversas ela confidenciou-me sua decepção; descreveu-me a evolução clínico-sentimental (neologismo?) de seu coração. Retardou, em quase infindáveis reticências, confessar a tristeza em que se encontrava.
Vivenciava o luto de um sentimento ainda vivo que julgara ser intocável e o via, como a um doente, cujo prognóstico em nada era favorável. Descreveu-me, e eu tentarei transcrever o que lembro do que me confidenciara; o cenário após a sexta-feira não era mais o mesmo, tudo era mentira e podia ver os bastidores de toda a encenação. Seu coração palpitava intenso e quando olhou em seus olhos, viu que tudo era falso, estranho e, finalmente, mesmo com dor, acordara. Deixou o anel no criado-mudo e saiu, sem olhar para trás e sem olhar atentamente para frente. Olhou para dentro de si, entrelaçou as mãos e foi embora. Bem acompanhada de si mesma.

                                        x                                     


Estava coberto com um voal cinza, gemidos decorrentes de pesadelos saiam boca afora. A angústia aumentava mas não havia quem o acordasse. Enquanto tentava fechar a porta, pelo lado oposto, tentavam introduzir a chave para impedi-lo de fechá-la. O molho fazia barulho, com notas aterrorizantes. Suava frio. Agitava-se. O voal finalmente cedeu aos movimentos e rolou pelo chão. A noite era fria. Seu corpo tremia agitado pelo sonho aflitivo. Finalmente perdeu a força, a energia esvaiu-se e ela entrou: a estranha, para assaltar-lhe a calma.  Gritou ainda, o incosciente tentava acordar-lhe para impedir dano maior; sem sucesso, o grito transformou-se em choro. Cedeu ao ladrão. Sentou-se. O grito emudeceu. O suor extinguiu-se. O que seguiu-se a isso foi uma melancolia a transformar-se em um voal  cinza a cobrir-lhe o espírito todo. Encolheu-se na cama e mergulhou no seu último sonho. 






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