Em uma dessas
conversas ela confidenciou-me sua decepção; descreveu-me a evolução clínico-sentimental
(neologismo?) de seu coração. Retardou, em quase infindáveis reticências, confessar
a tristeza em que se encontrava.
Vivenciava o luto
de um sentimento ainda vivo que julgara ser intocável e o via, como a um doente,
cujo prognóstico em nada era favorável. Descreveu-me, e eu tentarei transcrever
o que lembro do que me confidenciara; o cenário após a sexta-feira não era mais
o mesmo, tudo era mentira e podia ver os bastidores de toda a encenação. Seu coração
palpitava intenso e quando olhou em seus olhos, viu que tudo era falso,
estranho e, finalmente, mesmo com dor, acordara. Deixou o anel no criado-mudo e
saiu, sem olhar para trás e sem olhar atentamente para frente. Olhou para dentro
de si, entrelaçou as mãos e foi embora. Bem acompanhada de si mesma.
x
Estava coberto com
um voal cinza, gemidos decorrentes de pesadelos saiam boca afora. A angústia
aumentava mas não havia quem o acordasse. Enquanto tentava fechar a porta, pelo lado oposto, tentavam introduzir a chave para impedi-lo de fechá-la. O molho fazia
barulho, com notas aterrorizantes. Suava frio. Agitava-se. O voal finalmente
cedeu aos movimentos e rolou pelo chão. A noite era fria. Seu corpo tremia
agitado pelo sonho aflitivo. Finalmente perdeu a força, a energia esvaiu-se e
ela entrou: a estranha, para assaltar-lhe a calma. Gritou ainda, o incosciente tentava
acordar-lhe para impedir dano maior; sem sucesso, o grito transformou-se em
choro. Cedeu ao ladrão. Sentou-se. O grito emudeceu. O suor extinguiu-se. O que
seguiu-se a isso foi uma melancolia a transformar-se em um voal cinza a cobrir-lhe o espírito todo.
Encolheu-se na cama e mergulhou no seu último sonho.
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