sábado, 6 de novembro de 2010

Palavras quebram-cabeça

Há palavras que emocionam e desembocam num rio gigantesco
Escondido nos impérios da alma.
E se acham engraçadas ou ferem e com tanta graça se difundem
Que o riso vem fácil como se fosse brincadeira de criança sapeca.
Palavras não têm culpa se por nós se tornam substantivos, adjetivos ou verbos.
Porque são letras que se movem e dançam e se montam e se desmontam
Como um quebra-cabeça mágico.
Dó surge para quem dá valor a elas...
Pena de quem as constrói como castelinhos de areia que logo se desmoronam com
O chegar das águas.
Porque, afinal, sempre existirá um lobo para cada construção:
O tijolo pode virar poeira com um furacão.
Há palavras que não querem mentir, mas também não querem
Ser verdadeiras.
Há outras que são vaidosas, mas se passam por ingênuas...
Ou são apenas palavras mendigas escondidas nas entrelinhas que
Não querem se mostrar.
Nem toda palavra sonha em ser celebridade.
Até celebridade se vai quando chega a idade e se viveu só na célebre imagem.
Ser palavra é ter o dom de ser mutante
Embora ser mutante nada mais é do que um adjetivo de dois gêneros e substantivo masculino!
Então que mintam, que sorriam, que vivam e morram e existam e sejam
Artistas no palco labial, de papel, em versos soltos e peças teatrais.
Que vivam no limiar da vida e se calem quando ouvirem o som de uma canção.
E se tornem em aplausos ao findar da melodia quando, silenciosamente baixo,
O som fúnebre de uma valsa perdida e esquecida seja tocado para fechar as cortinas de nossa vida.
Afinal, depois do nosso espetáculo encerrado elas ainda continuam
A fim de perpetuar a história.
Somos todos uma gíria criada momentaneamente
Não moraremos em dicionário nenhum,
Nosso esconderijo será nas lindas profundezas do silêncio
Onde palavra nenhuma chega,
Seremos então o que palavra nenhuma ainda nos disse.

Dani Vipo® 
São Paulo, 27/04/2004 - noite
Poesia que já tem 6 anos e oito meses!



2 comentários:

  1. Adorei essa frase "...sempre existirá um lobo para cada construção
    O tijolo pode virar poeira com um furacão." Tantas construções minhas ruiram ao sopro de lobos e ventos fortes, mas enfim a vida é uma montanha russa. Amei cada letrina do teu rico texto.

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  2. Dani,
    Passei por seu blog e gostei desse "balé" de palavras. Inocentes, sem culpa, mas cheias de vida. Chegam encontrar esconderijos "nas profundezas do silêncio". Belo texto

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